sábado, 4 de outubro de 2008

O 5º Grande Axioma: DOS PADRÕES

Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso.

No momento em que você começa a acreditar ter enxergado um padrão de ordem nos assuntos que envolvem seres humanos, inclusive nos assuntos fianceiros, está correndo risco.

A ilusão de ordem. Não é só em Wall Street que ela espreita os desprevindos; é também em galerias de arte, corretoras de imóveis, cassinos e leilões de antiguidades. Onde quer que se arrisque e se perca dinheiro. A ilusão é mais que compreensível . Afinal de contas, onde é que se encontra mais ordem que no dinheiro? Por mais que o mundo se descabele, quatro vezes 25 cents sempre somam um dólar. O dinheiro parece frio, racional, submisso à análise racional e a manipulações. Para ficar rico, parece sufciciente encontrar um enfoque sólido e racional: a Fórmula. Todo mundo está atrás dessa Fórmula. Infelizmente, ela não existe.

A verdade é que o mundo do dinheiro é um mundo desordenado, sem nenhum padrão de comportamento, um absoluto caos. De vez enquando parecem formar-se padrões ou desenhos, como num céu de nuvens ou na espuma do mar que quebra na praia. Mas são efêmeros. Não constituem base sólida sobre a qual se possa erguer um plano.

Esse é o Axioma Imperial.

Se você estiver em maré de sorte, qualquer arremedo de esquema o fará ganhar dinheiro. Na maré contrária, não há um sequer que funcione. A sorte desempenha um papel fundamental. Aliás, os Axiomas, não apenas o admitem, eles se baseiam em que, isoladamente, a sorte é o dado mais poderoso no sucesso ou no fracasso de qualquer especulação. O fato é que não se pode confiar em nenhuma fórmula que ignore o papel dominante da sorte. A verdade é a seguinte: o preço de uma ação, ou de qualquer coisa que se compre visando lucro, subirá se tivermos sorte.

5ºAxioma Menor: Cuidado com a armadilha do historiador.
A armadilha do historiador é um tipo especial de ilusão de ordem. Baseia-se na crença, antiquíssima e totalmente sem fundamento, de que a história se repete. Quem acredita nisso - talvez 99 de cada 100 pessoas na face da Terra - como corolário acredita que a repetição ordenada da história permite, em determinadas cirscustâncias, previsões corretas.

Sendo assim, supunhamos que, no passado, em determinado momento, ocorreu o Evento A, que foi seguido do Evento B. Passam-se alguns anos, e testemunhamos a repetição do Evento A.
-Ah-ah! - Diz quase todo mundo. -Aí vem o evento B!
Não é assim que a banda toca. Não caía nessa. As vezes as história se repete. Mesmo quando a repetição ocorre, jamais é de forma confiável a ponto de você poder apostar prudentemente o seu dinheiro.

Geralmente, as conseguências da Armadilha do Historiador não costumam ser graves. "Se estiverem à frente no terceiro tempo, ganham o jogo." "Toda vez que a gente combina se encontrar para um drique, ela arranja um problema no escritório e chega atrasada." "Ninguém que perdeu a primária de New Hampshire jamais ganhou a presidencia." As pessoas estão sempre se deixando embrulhar nessas expectativas não confiáveis - o que é uma bobagem mas, de modo geral, não oferece perigos. Quando o seu dinheiro entra no negócio, porém, a Armadilha do Historiador se torna perigosa. Você pode acabar duro!

Existem, em Wall Street, escolas de pensamento inteiras que repousam em falácias originárias da Armadilha do Historiador. Analistas de ações e outros valores recuam no tempo até o último mercado de certos papéis, que conheceu uma alta explosiva, e reúnem montanhas de fatos a respeito de tudo que à época ocorria em volta. Registram que o PNB ia em alta, a taxa de juros caía, a indústria de aço tinha um bom ano, seguros não eram lá essas coisas, o time do White Sox segurava a lanterna, o presidente tinh a uma tia Matilde que andava resfriada. Passam, então a esperar que a mesma configuração de circusntâncias torne a ocorrer. E quando a portentosa constelação se apresenta, dão pulos de entusiasmo.

Fórmulas podem estar erradas; o mercado nunca. O mercado é o mercado, nem mais nem menos. Não faz previsões nem promessas. Está ali, e basta. Discutir com ele é como sair numa tempestade de neve, gritando que só deveria nevar no dia seguinte.

6º Axioma Menor: cuidado com a ilusão do grafista.

Representar números por meio de linhas em papel milimetrado pode ser útil ou perigoso. É útil quando ajuda você a visualizar algo com maior clareza do que lhe seria possível apenas com números. Fica perigoso quando torna a coisa representada mais sólida e portentosa do que na realidade é. É uma extensão da Armadilha do Historiador.

O mercado de ações não obedece a padrão nenhum. Praticamente, jamais se repete, e nunca o faz de forma confiável, previsível. Fazer gráficos dos preços de ações é como fazer gráficos da espuma do mar. Agora está assim, daqui a pouco não estará mais. O mesmo desenho você só tornará a ver por pura sorte. E, caso o reveja, não quer dizer rigorosamente nada, pois não antecipa coisa alguma.

Outro elemento da Ilusão do Grafista decorre da forma peculiar como uma linha traçada em preto, ininterrupta, audaciosamente cortando o papel milimetrado, é capaz de fazer um monte de de números desinteressantes, essencialmente desordenados, parecer uma Importante Tendência. o valor da cota do fundo é capaz de vir subindo tão devagarinho que sequer empata com a inflação; colocando, porém, os anos bem juntinhos num gráfico, talvez esquecendo-se de alguns maus anos que preferem não comentar, os promotores de fun dos são capazes de apresentar uma beleza de gráficono seu folheto de venda. O cliente vê aquela linha preta em disparada e fica boquianerto: "Puxa!"

Especialmente preparado para o relatório anual, o gráfico só mostra glórias , ao vivo e em cores. A linha ascendente, forte, grossa, ininterrupta, tão completamente entronizada ali, parece que nunca será diferente. Nada é capaz de rompê-la Pode curvar-se, mas só um pouquinho. A impressão que dá é de que subirá para sempre.

7º Axioma Menor: cuidado com a Ilusão de Correlação e a Ilusão de Causalidade.
Tem aque la velha piada do camarada que ficava todos os dias na mesma esquina, acenando os braços e emitindo gritos estranhíssimos. Um dia um guarda vai nlá e pergunta do que se trata:
- Estou mantendo as girafas longe - diz o sujeito.
- Mas nunca pareceram girafas por aqui - retruca o guarda.
- Pois é, tenho trabalhado bem, não tenho?
É uma característica das mentes até mais racionais perceberem relações de causa e efeito onde não existem. Quando necessário, nós as inventamos.

A mente humana é um orgão em busca de ordem. Não se sente à vontade no caos, e , se for a única maneira de se satisfazer, é capaz de refugiar-se num mundo de fantasias. Então, quando ocorrem dois ou mais eventos perto uns dos outros, vamos logo descobrindo elos causais entre eles. Isso nos deixa mais confortáveis.

A menos que você veja uma causa operando - e estou falando de ver mesmo -, considere todas as relações causais com o maior dos ceticismos. Quando perceber eventos ocorrendo juntos, ou em gangorra, a menos que tenha sólidas provas em contrário, presuma que a proximidade se deve ao acaso, mais nada. Tenha sempre em mente que está tratando com o caos, e conduza os seus negocios a partir daí. Até começar a parecer ordem o caos não é perigoso.

Evite imaginar causas quando não pode, realmente, observá-las em funcionamento. Estará evitando muito sofrimento.

8ºAxioma Menor: cuidado com a falácia do jogador.

O jogador diz: "Hoje eu estou quente!" O comprador de bilhete de loteria: "Hoje é meu dia de sorte!" Ambos estão tentando criar um estado de eufórica expectativa, no qual arriscarão o seu dinheiro com menos prudência que o normal.

A falácia do jogador é uma espécie peculiar de ilusão de ordem. Neste caso, a ordem não é percebida no mundo caótico à volta, mas dentro de si mesmo, no próprio ser. Quando diz que está "quente", ou que é o "seu dia de sorte", na realidade a pessoa está querendo dizer que se encontra, temporariamente, num estado no qual acontecimentos causais serão influenciados a seu favor. Num mundo desordenado, onde os eventos rodopiam em todas as direções , somos uma ilha de calma e ordem. Á nossa volta as coisas deixarão de acontecer de forma tresloucada, e obedecerão à nossa ordem.

O fenômeno não se retringe à mesa de jogo; estende-se a todas as atividades da vida. Há dias em que as suas decisões são todas acertadas, brilhantes, o mundo lhe sorri, o correio entrega cheques inesperados e o seu rival na empresa decide ir tentar a vida na Austrália. Dias há, também, que tudo que você toca vira cinza e pó.

Sensação de invencibilidade. Eis aí uma sensação perigosa. Ninguém é invencível, nem por meio segundo. Há dias e dias.

Estratégia Especulativa:
O Axioma adverte que não veja ordem onde não existe. Não significa que você deva desesperar de jamais encontrar uma aposta vantajosa ou um investimento promissor. Pelo contrário: deve estudar a especulação na qual está interessado e, quando topar com algo que tenha boa cara, aposte.

Seu monólogo interior deve ser mais ou menos assim: "Tudo bem, fiz meu dever de casa o melhor possível. Acredito que estou apostando numa boa, e que vou ganhar. Porém, como não consigo controlar todas as casualidades capazes de afetar meu dinheiro, sei que são grandes as minhas possibilidades de estar errado. Portanto, permanecerei atento, pronto a saltar na direção que os fatos indicarem."