"- Mas deves aprender a distinguir o fogo do amor sobrenatural do delíquio dos sentidos. É difícil mesmo para os santos. Disse Ubertino.
- Mas como se reconhece o bom amor? Perguntei tremendo.
- O que é o amor? Não existe no mundo, nem homem, nem diabo, nem qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína. . . Repara eu não te digo essas coisas somente sobre o mau amor, de que naturalmente todos devem fugir como de algo diabólico, eu digo isso com grande medo também do bom amor que ocorre entre Deus e o homem, entre o próximo e o próximo. Acontece frequentemente que dois ou três, homens ou mulheres, se amem demasiado cordialmente e nutram mutuamente singular afeição, e desejem viver sempre próximos, e quando uma parte deseja, a outra quer. . . Oh, o amor possui diversas propriedades, de início a alma se enternecesse por ele, depois cai enferma. . . Mas em seguida percebe o calor verdadeiro do amor divino e grita, e se lamenta, e faz-se pedra posta na fogueira para desfazer-se em cal, e crepita, lambida pela chama . . .
- E esse amor é bom?
- Sim, esse enfim é bom amor. Mas como é difícil. Como é difícil distingui-lo do outro. "