sábado, 20 de junho de 2009

A Sombra do Vento

"A sobrinha do livreiro levantou a mão direita, procurando-me com o tato. Sem saber ao certo como proceder, fiz o outro tanto e ofereci-lhe a minha mão. Ela a segurou com sua mão esquerda, e ofereceu-me em silêncio a sua direita. Compreendi institivamente o que ela me pedia, e guiei-a até o meu rosto. Seu tato era firme e delicado ao mesmo tempo. Seus dedos percorreram minhas bochechas e meus pômulos. Permaneci imóvel, quase sem me atrever a respirar, enquanto Clara lia minhas feições com as mãos. Enquanto o fazia, sorria para si mesma e pude perceber que seus lábios, contornando-os em silêncio com o indicador e o anular. Seus dedos tinham cheiro de canela. Engoli seco, notando que meu pulso se acelerava e agradecendo à divina providência que não houvesse testemunhas oculares para presenciar meu rubor, que teria bastado para acender um charuto a um palmo de distância."

- Você embaça os meus óculos