domingo, 4 de outubro de 2009

O Livro do Amor

O amor humano é a preparação para o amor divino

Desejo: resplendor divino infuso no outro.

Tudo parte da semelhança. E quando o amor é verdadeiro os amantes se identificam um com o outro. Passamos do amor solitário ao amor recíproco. Semelhança e reciprocidade fundamentam sua estrutura:

"A semelhança gera o amor. A semelhança é uma certa natureza igual em vários. Pois se eu sou semelhante a ti, também és necessariamente semelhante a mim. Portanto a mesma semelhança, que impele que eu te ame, assim como tu me amas, obriga-te também a me amares."

> Camões: o amador se transforma na coisa amada e em si mesmo possui a parte desejada.

"Na verdade cada um tem a si próprio e ao outro. Pois este existe naquele. E aquele existe neste. Com efeito enquanto eu te amo, eu me encontro amante, em ti, estando eu a pensar em mim, e recobro-me por mim mesmo, perdido na minha negligência, conservando-me em ti. A mesma coisa que fazem em mim. Pois eu depois que me perdi a mim mesmo, se por ti me recobro, por ti tenho a mim, eu te tenho antes e mais que a mim mesmo, e estou mais próximo de ti que de mim, visto que me ligo a mim precisamente por ti."

Três pessoas (eu - você e nós): o amante e o amado são apenas espelhos que guardam a imagem imperfeita, é isso que os aproxima um do outro. Precisam compreender a profundidade desse bem.
(A razão invertida; o amor na prática é sempre ao contrário como diz Cazuza em Ritual)

Apesar da união os amantes não sabem exatamente o que buscam um no outro. Querem sempre mais, mas já não sabem o que significa esse mais. Sofrem quando amam mas não sabem porque sofrem. Têm saudade do imponderável. A semelhança e a reciprocidade não resolvem esse mistério divino.

Conhecimento puro: libertar-se do corpo para ocupar-se da alma. Passar da superfície ao profundo. O endereço do homem é o outro. Assim como o sol atrái as flores, a lua move as águas e marte comanda os ventos, também sofremos o impacto da beleza, que é o rosto de Deus, e atrái a alma por uma lei intrínseca de semelhança.
Aplacar-lhe a sede. Fonte das fontes. Um encontro sublime entre o amor e a coisa amada. Um projeto de redenção onde coincidem o Bem e o Uno, a causa eficiente e a causa final.

A alma é o verbo do intelecto .
O belo é o prefácio do bem.
"Quando a alma nos é arrebatada só nos resta amar" C.D.A.

Procuro algo mais tranquilo nada que avassale a noite nem rasgue o dia.