O povo venerava Car, a deusa da Lua. E, como a Lua controla as marés, os fenícios governavam os mares, de onde surgira o maior de todos os mistérios: a vida.
Casanova disse que a estátua de bronze a nossa frente, de um homem dançando, representava Mercúrio, o mesageiro dos deuses. Deus ele também, Mercúrio era chamado pelos egípcios de Thoth, "juiz". Os gregos o denominavam Hermes, "guia das almas", pois era ele quem conduzia as almas ao inferno. E, às vezes, chegava a enganar os outros deuses, trazendo uma ou outra de volta. Príncipe dos Trapaceiros, como o curingão dos baralhos, como o Louco do tarot, era o senhor dos roubos e das espertezas. Foi ainda Hermes quem inventou a lira de sete cordas e, com ela, a oitava musical. Sua música fazia os outros deuses chorarem de prazer. Fiquei muito tempo parado em frente da estátua. Ali estava, então, o deus rápido e esperto, capaz de libertar os prisioneiros do Hades, o Reino dos Mortos. Com suas sandálias aladas e o caduceu, um bastão em que se enrolavam duas serpentes, formando o algarismo 8, Hermes presidia a terra dos sonhos, os mundos da magia, do acaso e de todos os tipos de jogos. Seria por coincidência que encarava, com um sorriso aberto e debochado, aquela procissão de gente grave, séria? Ou, talvez, na bruma escura do tempo, aquele ritual fosse para ele...
*Se um homem pudesse dizer e fazer o que pensa, seria capaz de se transformar
Aquilo não era um mero ritual, mas sim um processo que se desenvolvia em frente de nossos olhos, cada pausa simbolizando uma fase na transformação de um estado em outro. Era como se estivéssemos seguindo uma fórmula, mas... uma fórmula de quê? Para quê?
*assim como as abelhas dançam!