quarta-feira, 18 de julho de 2012

Teatro Alquimico - Elucubracoes

 Diario de Leituras

Elucubro

Descubro que o principio de tudo teve inicio no fim daquela outra existencia, que houve antes. No fim daquelas particulas que se colidiram e formaram tudo como vemos, e vemos como somos, todo o cosmos. 


... surpreendia nos versos a "impressao de um misterio onipresente". Da claridade lunar, talvez. Pura, difusa e glacial. Da noite metafisica. Quando a luz do nada brilha sobre o cosmos. Metafisica. Ou melhor: hiperfisica. - O por-da-Lua.

'Assim me vejo no antro-oficina, cercado por mil dicionarios e retortas, tradutor-boticario, experimentando sais, formulas e palavras, com destempero e melancolia. Mas nao me atenho a combinar e separar os multiplos sistemas, alheio ao que se passa dentro de mim. Percebo coisas. Sigo modificado por minhas mudancas.  Transforma-se o amador na coisa amada. De tal modo que nao sei onde comeco e tampouco onde termino.

Cada objeto amado e' o centro de um paraiso. Novalis, Polen, frag. 50.

A morte ocupa o centro das coisas. Invade o universo. Devora-o impiedosamente. E nao deixa marcas. Onda universal, tudo naufraga. Fim do mundo. Dos homens. Dos deuses. "Cada parte do universo apressa-se, infatigavelmente, para a morte. Apenas um silencio desnudo e uma altissima quietude encherao o espaco imenso". Um mundo de vialacteas e de sois, que formam o nada, onde a vontade de viver e' cega, irracional, e se desdobra sem finalidade (voluntas / noluntas), que quer por querer e para aumentar a insatisfacao e a dor, segundo O mundo como vontade e representacao. Parece mesmo algo lucreciano (sem a harmonia da Alma Venus) inspirando seu universo como no "Cantico do Galo Silvestre":

Mortais, despertai. Nao estais ainda livres da vida. Vira' o tempo em que nenhuma forca exterior, nenhum intrinseco movimento vos resgatara' da quietude e do sono, mas nela sempre e inesgotavelmente repousareis.

Quando isso ocorrer, nada mais sendo exilio, um silencio universal cobrira' todo o universo. Havendo universo. Quase um eterno retorno:

Cada parte do universo apressa-se, infatigavelmente para a morte com solicitudee celeridade admiraveis. Apenas o proprio planeta parece imune a decadencia e ao declinio. Contudo, se no outono e no inverno mostra-se quase enfermo e velho, nao menos na nova estacao, rejuvenesce sempre. Mas como os mortais no primeiro momento de cada dia readquirem uma parte da juventude., assim envelhecem todos os dias e finalmente se extinguem; igualmente o universo no principio de cada ano renasce e nem por isso deixa de continuamente envelhecer. Tempo vira em que ele e a propria natureza se apagarao. Assim como de grandes reinos e imperios humanos com seus movimentos maravilhosos, famosissimos em outros tempos, nada resta hoje dos indicios ou fama; o mesmo do mundo inteiro, dos acontecimentos infinitos e das calamidades das coisas criadas, nao restara um vestigio sequer. Apenas um silencio nu e uma altissima quietude encherao o espaco imenso [lembrando aqui partes de "O Infinito"]. Assim esse arcano admiravel e espantoso da existencia universal, antes de ser declarado ou compreendido, se extinguira' e perdera'.