sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Saramago - Sorriso - Smile

Smile, tell me here the dictionary, is the act of smiling. And smiling is laugh without making noise and running twitching of the mouth and eyes.

Smile, my friends, is a lot more than these poor settings, and I was amazed to imagine the author of the dictionary in the act of writing your entry, so cold, as if he had never smiled in his life. Here we see the extent to which people do may differ from what they say. Caio in complete reverie and put myself to dream a dictionary that this precisely, exactly, the meaning of words and turn into run-of-plumb the network that in practice every day, they involve us.

No two smiles alike. We have the smile of derision, the superior smile and her humble contrary, the tenderness, the skepticism, the bitter and ironic, the smile of hope, of condescension the dazzled, the embarrassment, and (why not?) to who dies. And there are many more. But none of them are smiling.

The Smile (this, in capital letters) always comes from afar. It is the manifestation of a profound wisdom, has nothing to do with muscle contractions and does not fit a dictionary definition. Principia by slightly moving face, sometimes hesitant, for a flutter inside that is born in the most secret layers of being. Moves muscles is because it has no other way to express themselves. But they will not? Do not we know that smiles are quick flashes, such sudden and inexplicable brilliance, releasing the fish in deep waters? When the sun passes over the fields in the wind and cloud, which was that the earth moved? And yet it was a smile.
José Saramago


Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.
José Saramago