Onde a lua cheia deixou
o seu saco noturno de farinha?
Se já estou morto e não sei,
a quem devo perguntar as horas?
Me diga, a rosa está nua
ou tem apenas esse vestido?
Há alguma coisa mais triste no mundo
que um trem imóvel na chuva?
A fumaça fala com as nuvens?
Por que se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
Quantas abelhas tem o dia?
E é paz a paz da pomba?
O leopardo faz a guerra?
Quantas perguntas tem um gato?
Onde estão aqueles nomes doces
como as tortas de antigamente?
Para onde foram as Donanas,
as Felisbertas, as Bizuzas?
Para quem sorri o arroz
com infinitos dentes brancos?
Como a laranjeira e as laranjas
dividem o sol entre si?
Quem gritou de alegria
quando nasceu a cor azul?
Como ganhou sua liberdade
a bicicleta abandonada?
É verdade que no formigueiro
os sonhos são obrigatórios?
Já percebeste que o Outono
é como uma vaca amarela?
Quem canta no fundo da água
na lagoa abandonada?
De que ri a melancia
quando a estão assassinando?
Posso perguntar ao meu livro
se é verdade que o escrevi?
Então não era verdade
que Deus vivia na lua?
Quando o preso pensa na luz,
é a mesma que te ilumina?
Por que vivem em farrapos
todos os bichos-da-seda?
Onde encontrar uma sineta
que soe dentro de teus sonhos?
A quem posso perguntar
que vim fazer neste mundo?
Há coisa mais boba na vida
que chamar-se Pablo Neruda?