quinta-feira, 31 de outubro de 2013

XCII

XCIII 

SE ALGUMA VEZ teu peito se detém,
se algo deixa de andar ardendo por tuas veias,
se tua voz em tua boca se vai sem ser palavra,
se tuas mãos se esquecem de voar e dormem,

Matilde, amor, deixa teus lábios entreabertos
porque esse último beijo deve durar comigo,
deve ficar imóvel para sempre em tua boca
para que assim também me acompanhe em minha morte.

Morrerei beijando tua louca boca fria,
abraçando o cacho perdido de teu corpo,
e buscando a luz de teus olhos fechados.

E assim quando a terra receber nosso abraço
iremos confundidos numa única morte
a viver para sempre de um beijo a eternidade.

Cem Sonetos de Amor - Pablo Neruda