Carta de novembro/2013
O Corpo Vivo da
Escola Rosacruz Áurea e o Indivíduo
Certa
vez foram mostradas a um morador do deserto, que passou toda a sua vida numa
pequena vila no deserto, fotos que foram tiradas dele. Depois de algum tempo de
admiração, pois nunca havia visto uma foto sua, ele disse admirado: “Esse homem
está com o meu boné”.
Pelo
exemplo desse acontecimento verídico, vemos que o grau de desenvolvimento da
consciência é de máxima importância em nossa vida diária e que essa consciência
não é igual em todas as pessoas, portanto, ela pode ser enriquecida. Através de
nossa experiência de vida, pela experiência dentro do nosso ambiente, através
do trabalho com a matéria da natureza que nos circunda, aprendemos a conhecer
suas leis. Mesmo que o ser humano tenha acumulado experiência na matéria
durante séculos, em diversos pontos ainda há falta de consciência. O moderno
ser humano ocidental, em boa parte, não tem consciência, por exemplo, do que
acontece em seu estômago, como trabalha o seu coração, ou o que lhe acontece
durante o sono.
Uma
das poucas garantias em nossa vida é a morte. Porém, o que sabemos a respeito
da morte? O que acontece após a morte, e o que nos cabe fazer? Frequentemente
não estamos nem conscientes do caráter atual da nossa existência e assim
construímos no tempo, como se ele fosse a eternidade. Quando esta falta de
consciência é experimentada profundamente, surge então o impulso para o
crescimento da consciência. Para isso existem muitos métodos.
Seria,
porém, um grande equívoco pensar que a Escola Espiritual da Rosacruz oferece
também um método para a expansão da consciência. Nesse sentido a Escola não é
uma escola; ela não é um dos muitos institutos para treinamento do intelecto.
Não! Trata-se, aqui, de uma Escola Espiritual. Isto indica um desenvolvimento
alma-espírito e uma consciência, alma-espírito.
Nós,
como nascidos da natureza, possuímos uma consciência natural, que se formou da
natureza material, na ordem de emergência temporal, no mundo da morte e onde ela deve ser utilizada.
Através da percepção sensorial, a nossa consciência natural, ou, como diz
Hermes Trismegistos, a nossa consciência animal, somente se desenvolve em
proporção mais elevada do que nos animais. Além disso, sob diversos pontos de
vista, a consciência intuitiva dos animais é muito mais abrangente do que a do
ser humano. Quando um cão é fechado num recinto, instintivamente ele quer sair.
Porém, ele não pode fazer outra coisa do que andar de um lado para outro,
inquieto e ganir. O ser humano, porém, pode observar melhor a sua situação e
sair quando quiser. Isto, porém, não significa que ele possua algo mais do que
uma consciência animal, pois, conhecemos também cães que, quando lhes é
ensinado repetidas vezes, são capazes de abrir o trinco. Com isto queremos
dizer que a consciência, da qual dispomos como seres humanos naturais, foi
desenvolvida através da percepção da natureza visível em nossa existência
natural. E somente nos é útil para a vida dentro desta natureza. Tal
consciência é temporal, variável e
limitada como esta natureza.
Quando
reconhecemos isto, o que é possível com a mesma consciência natural, podemos
imaginar também o seguinte: quem procura por uma vida espiritual e eterna, por
um mundo do bem, da verdade e da justiça, terá de construir para esse mundo um
instrumentário totalmente diferente. E essa consciência totalmente diferente,
que precisa desenvolver-se, não pode formar-se com base no velho e, em primeiro
lugar, também, não é perceptível pela velha consciência. Esse processo da transfiguração
que se pode realizar dentro da Escola Espiritual leva o candidato, finalmente,
a uma existência consciente no novo campo astral da Escola. Essa existência
consciente não pode ser interrompida pela morte.
Uma eclusa
A
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea pode ser comparada a uma eclusa. Uma eclusa
faz a ligação de um nível de água com um outro mais elevado. Talvez já tenhais
observado alguma vez o funcionamento de uma eclusa. O navio entra na eclusa,
por exemplo, que está aberta no nível mais baixo da água; assim, o navio entra
sem dificuldade e uma comporta é fechada atrás dele. A seguir, pouco a pouco,
deixa-se entrar água do nível mais elevado à frente, através de pequenas
aberturas, até que o nível de água dentro da eclusa se iguale com o nível mais
alto. Só então serão abertas as comportas do nível mais elevado e o navio
poderá sair.
Numa
eclusa, nunca as duas comportas, a do nível mais baixo e a do nível mais alto,
estão abertas simultaneamente. Quando o barqueiro quer seguir, deve-se fechar
primeiramente a comporta que está atrás dele, atrás do seu passado, antes que a
outra comporta possa ser aberta. Se o passado não fosse fechado e, se por
descuido ou de modo forçado, a entrada para o nível mais alto fosse aberta
antes do tempo, então as forças da correnteza assim formada impeliriam o navio
para trás, danificando-o.
Com
isso queremos indicar diretamente para a autoatividade. Depois de entrar na
Escola, o trabalho de fechamento das comportas deve ser começado. E isso, cada
candidato deve fazer por si mesmo. Pois a Escola quer levar-nos do campo de
vida inferior ao mais elevado, para o campo da ressurreição, através do
processo da transfiguração.
Portanto,
não existe um mestre que nos leve de um lado para o outro e também não se pode
falar de uma comporta automática. Porém, o trabalho na Escola Espiritual é
iluminado de muitos lados e a força necessária para atingir o objetivo está
presente em abundância. Quem se liga à Escola Espiritual, é acolhido no corpo
vivo da Escola.
O
corpo vivo possui uma forma sétupla de manifestação, onde cada candidato
trabalha. Aqui são possíveis vários meios de avanço no processo de
transfiguração, cada um trabalhando em
seu próprio nível. Ao mesmo tempo, existe um aspecto imaterial, uma
concentração de força, da qual cada participante pode tomar e pela qual pode
ser realizado, ao mesmo tempo, o trabalho em sua grande multiplicidade.
É
um campo de força eletromagnético, cujas radiações provêm de uma esfera de
vida, de um campo de vida, que não é desta natureza material, mas da natureza
da vida, do mundo original. Quem se liga ao Espírito sétuplo, experimenta,
imediatamente, todos os valores e condições da vida original. Com o primeiro
passo que se dá dentro da Escola Espiritual, é possível experimentar-se a força
do corpo vivo. O candidato experimenta, então, que algo muito especial está
ligado à Escola. É muito mais do que o aspecto exterior e, quando quiseres
saber do que se trata, devereis ligar-vos, por meio da autorrendição, àquilo
que está na essência dessa força. Assim, chegareis da fé à contemplação e,
jubilosos, testemunhareis como João:
“O
que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, que temos
contemplado, e as nossas mãos tocaram da palavra da vida. Porque a vida foi
manifestada, e nós a vimos e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna,
que estava com o Pai, e nos foi manifestada. O que vimos e ouvimos, isto vos
anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com
o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Essas coisas vos escrevemos para o vosso gozo se cumpra”.
Compreendeis
então algo daquilo que está por “detrás”? A vós é recomendado: Rendei-vos a
esse corpo vivo, a essa força crística concentrada. Deixai a força trabalhar em
vós e deixai assim o passado absolutamente atrás de vós! A palavra chave para
isto é: autorrendição sem reserva; tudo ou nada!
Se
compreenderdes isso, então não mais é possível que vos torneis vítimas do abuso
criminoso dos mistérios, que acontece tão frequentemente neste mundo, a exploração
da imperfeição humana.
Quando
dizemos isto, sabemos que alguém poderá perguntar:
“E
a indicação da total autorrendição, sem reservas, ao corpo vivo da jovem
Gnosis, não é também um abuso dos mistérios?” A resposta é: não, certamente que
não, porque a autorrendição ao corpo vivo somente pode ser feita e conduzir ao
objetivo se a resolução for tomada de forma independente e em completa
liberdade. Toda autorrendição forçada é antiética e agrilhoa.
A
autorrendição e a autoatividade são fragmentos que requerem autoconhecimento e
visão de nosso estado individual. Numa tal reflexão, surgirão logo as
perguntas: “posso eu fazer isso? Estamos em condição de fazermos isso
juntos?” “Possuímos então a harmonia
necessária para realizar esse processo interior?”
Na
verdade, esse processo, que culmina com a transfiguração, não pode ser
realizado pelo ser, pelo eu, mas deve ser realizado pela força interior de
Cristo. Por conseguinte, isso significa que não deve ser empregado nenhum
forçar, seja de que forma for, nenhuma automortificação, nenhum exercício ou
autoviolência, mas só um silencioso: “Senhor, não a minha, mas a Tua vontade
seja feita”. Uma força curadora realizará esse processo interior da consciência
e o silenciar do ser significará uma ligação com o espírito. E quem se liga ao
Espírito sétuplo, experimenta todos os valores, todos os estados da vida
original.
É
a unidade original que se manifesta, sob certas condições, na natureza da
morte. Esta é a casa Sancti Spiritus,
da qual testemunharam os Rosacruzes Clássicos na Fama Fraternitatis. A Escola
da Rosacruz Áurea fala do corpo vivo; é a arca dos tempos de Noé, do navio
celeste dos antigos egípcios.
Que
esse saber possa se constituir em nós com uma posse em nosso sangue e
conduzir-nos à única ação necessária para a autorrealização.
As
irradiações da Gnosis tocam o mundo e a
Humanidade continuamente. Um chamado soa para toda a humanidade, visando
impelir os seres humanos a seguirem em uma outra direção que a habitual e
despertá-los da condição ilusória do dia
a dia, pois mergulhados estão nos objetivos e fins deste mundo dialético.
A
confluência entre essas irradiações e a herança cármica microcósmica leva o
homem a uma busca, a subtrair-se desse
cotidiano, reconhecendo interiormente que seus esforços nesta existência, rumo
aos seus objetivos, o deixam sempre de mãos vazias.
As
atrações que o mundo dialético exerce sobre a razão, sobre os sentimentos e
ações do ser humano, são tamanhas que se pode concluir que para chegar à
antecâmara da Escola Espiritual, tornando-se um simpatizante deste caminho,
muitas barreiras interiores, conscientemente ou não, foram rompidas, foram
vencidas. Esse encontro, essa descoberta, possibilita uma elevação da
consciência, permitindo uma revelação interior onde respostas ao quem sou,
porque estou aqui, de onde vim e para onde vou são encontradas.
Nessa
luz, com essas questões resolvidas ou em resolução, o homem descobre que, além
de seu significado histórico, Cristo é
uma força, uma manifestação espiritual, uma força de Amor impessoal que o busca e o auxilia com o objetivo de
resgatá-lo da ilusão em que vive, para salvá-lo.
Essa
intervenção Crística é necessária, pois, por suas próprias forças, utilizando
as mesmas armas que utiliza em seu cotidiano, o homem nascido nesta natureza,
ligado às suas leis, não tem os meios para subtrair-se à ilusão à qual está
submetido nesta ordem de emergência.
Cada
pesquisador, cada simpatizante, aproxima-se da Escola da Rosacruz Áurea com seu
estado sanguíneo particular. Traz consigo
suas experiências obtidas
nesta vida, sua herança sanguínea e cármica.
O pesquisador descobrirá que o encontro dessas experiências particulares
com as novas possibilidades de compreensão dos mistérios da vida e com os
mistérios da sua existência poderá ser acompanhado de amarguras, pois conhecer-se
realmente, conhecer a si mesmo, pode ser tão revelador que dores à Luz serão
evidenciadas. Deve também levar em
consideração, o pesquisador, que na Luz de Cristo
tudo é suportável; ao mesmo tempo em que
o homem desmascara-se, participa do caminho endurístico, cresce nele essa Luz, a
partir do Átomo Centelha do Espírito, da Semente incorruptível em seu coração.
Os
objetivos às metas voltadas ao mundo atual tomam outro sentido. O homem
descobre que pode desligar-se do nascer crescer e morrer, do bem e do mal,
desta dura realidade dialética.
A
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea não dá ao homem um caminho. Ela ilumina a
possibilidade de encontrá-lo. Esse caminho tem início, como mencionado acima,
no desabrochar da Rosa do Coração, onde está oculta toda a possibilidade de
retorno, com o renascimento da Alma divina, da Alma imortal, veículo que permite o reencontro do Filho com
o Pai.
Abraços fraternais de seus amigos do Círculo de
Simpatizantes.