terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Letter February 2014 - The Conscience of Illusion

LECTORIUM ROSICRUCIANUM

ESCOLA INTERNACIONAL DA ROSACRUZ ÁUREA

CÍRCULO DE SIMPATIZANTES

Carta de Fevereiro/2014

A consciência da ilusão

O raio de ação de nossa faculdade de percepção é enorme.

Contemplamos o céu estrelado a anos-luz de distância, ouvimos

de longe o vento tempestuoso que se aproxima, podemos até

mesmo prever a ameaça de um terremoto com vários dias de

antecedência. Contudo, não somos capazes de perceber a aflição

contida de alguém sentado ao nosso lado no metrô. Nossa

consciência é uma faculdade natural intrínseca que limita nossa

percepção do mundo. Tudo o que se encontra fora de seu âmbito é

para nós virtualmente inexistente ou pura conjectura. Nós a temos

em alta conta devido à aparente envergadura de seu campo de

percepção, o que de certa forma não deixa de ter sua razão

quando consideramos o atual estágio de desenvolvimento de

nossa personalidade. No entanto, ela não passa de uma

consciência que consegue enxergar apenas seu mundinho e as

coisas que se referem a ela mesma. Construímos uma muralha em

torno de nosso eu, de nosso universo particular, e no interior

desse pequeno mundo, acumulamos, com o passar do tempo, um

notável tesouro de conhecimento, compreensão e experiência.

Contudo, na realidade, praticamente não fazemos ideia de quem

somos, de onde viemos e o que temos de fazer aqui. Diariamente

nos vemos diante de circunstâncias e fatos incompreensíveis e

absurdos que acabamos aceitando a contragosto. É como se

vivêssemos sempre prestes a despertar de um sonho, mas sempre

de novo nos escapasse o momento de acordar. Esse sonho nos

mantém como que cativos numa “ilha” descrita, por aqueles que

conseguem perscrutar por detrás dos véus, como sendo um

circuito fechado cujos limites são nossa própria consciência. O

maravilhoso cérebro humano deve ter engendrado o conceito de

“consciência” quando reconheceu que justamente aquilo que ele

considerava como o acesso ilimitado a todo tipo de conhecimento

e compreensão era, na verdade, sua própria limitação. Mesmo os dicionários, ao definirem a consciência como sendo a

“compreensão de si mesmo e do ambiente”, não colaboram para

que tenhamos uma visão mais ampla a esse respeito. Mergulhados

no invariável e persistente ruído de nosso mundo, chegamos à

mesma conclusão do bardo quando diz que “há mais coisas entre o

céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”. São sinais de uma

realidade diferente que vive em nosso interior e que (ainda) não

nos é permitido contemplar.



Essas ideias e sugestões provenientes de uma região que nossa

percepção não consegue sondar sempre foram pontos de

controvérsia, assim como também a existência ou não de um ser

supremo e de um Além pertencente a ele, povoado por criaturas

lendárias. Dessa forma, uma visão panorâmica dos mais remotos

recantos de nossa consciência mantém viva, mediante símbolos e

arquétipos, a lembrança de outra realidade que existe fora dos

limites da razão e da comprovação. Alguns a veem como realidade

concreta; outros chegam até mesmo a acreditar nela, mas a

maioria a considera como história da carochinha, apropriada para

ser apreciada apenas pelos simplórios. Em geral, as pessoas

tentam compreender o Além e tudo o que há nele, imaginando a

existência de uma quarta dimensão, mas a realidade não se

sustenta em teorias multidimensionais. Ela é simplesmente a

unidade, aquilo que É. Muitas vezes, referimo-nos a ela como “o

Todo” ou “o Verbo”. Mesmo sem possuir forma ou ocupar um lugar

no espaço, ela tudo permeia e é onipresente. Entre os

inseparáveis mundos da matéria e do Espírito, existe um canal

livre de comunicação que escapa à nossa percepção.



A muralha que construímos em torno de nosso pequeno mundo

não passa de mera ilusão de ótica, fortalecida pelo grande poder

de barganha da matéria, que como um véu, obscurece a realidade

que está diante de nossos olhos. Enquanto não desvendarmos

essa ilusão, continuaremos a vasculhar nosso pequeno reino em

busca de algo novo, algo que realmente valha a pena, algo para o

qual, uma vez descoberto, exclamemos: “Ah! É isso!”. E assim,

nós nos ocupamos dessa busca por muito tempo para no final

encontrar a decepção. De acordo com a cosmologia da Doutrina Universal, o período

terrestre corresponde apenas à fase inicial da construção da

“consciência de si mesmo” na evolução humana. Essa consciência

incipiente capacita o ser humano a descobrir, por trás da ilusão

deste mundo, uma nova possibilidade de desenvolvimento para si

mesmo. Trata-se de um pro- cesso demorado e penoso que nos

conduz, através da tentação da matéria, rumo a uma nova e

sublime forma de existência, rumo ao verdadeiro destino do

homem. Isso implica em uma transformação da consciência, pois,

por trás da matéria está o Espírito, por trás de nossa antiga

consciência está a consciência universal, também denominada

consciência cósmica.



Chegará o dia em que teremos acumulado tantas experiências que

ficaremos cansados deste mundo, no qual nada é o que parece,

nada é permanente, tudo vai e vem numa infinita repetição. Esse

ponto de mutação pode levar tanto a uma resignação como a uma

amargura, mas também pode conduzir a um despertar, a uma

mudança do foco de nossa atenção. Nesse dia, já não prestaremos

atenção aos atributos do velho eu como posse, fama e poder, mas

sim aos sinais silenciosos, provenientes da região limítrofe de

nossa consciência, que foram por tanto tempo abafados pelo ruído

da terra. Ao mesmo tempo acontecerá um desloca- mento do “eu”

para o “nós”. Pouco a pouco, nosso pequeno eu começará a perder

terreno e cederá lugar para o nosso verdadeiro ser. Misticamente,

poderíamos dizer que a “consciência de nós mesmos” transforma-
se em amor. O que antes não passava de uma vaga suposição

eleva-se agora no coração humano como realidade vivente.



Quando tudo parece ter-nos sido tirado, uma nova perspectiva nos

aguarda. Surgem então arquétipos que se fundem em uma luz, na

qual, gradualmente, as imagens ilusórias da antiga consciência

vão desaparecendo. Muralhas desmoronam-se, fronteiras

desfazem-se, e, ambas, a antiga e a nova consciência pairam na

amplidão de uma radiante manhã.



Revista Pentagrama, número 6 ano 2010, artigo completo página


31 em diante. Download gratuito em www.pentagrama.org.br .