domingo, 9 de fevereiro de 2014

O Livro de Mirdad 34

Lectorium Rosicrucianum

34

Acerca do Ovum materno

Mirdad: No silêncio desta noite, Mirdad gostaria que meditásseis sobre o Ovum materno.

O espaço e tudo o que nele há é um ovo casca é o tempo. Este é o Ovum materno.

Envolvendo este Ovum, como o ar envolve a terra, está Deus manifestado, o macrodeus, a vida incorpórea, infinita e inefável.

Encerrado neste Ovum está Deus latente, o microdeus, a vida englobada, também infinita e inefável. Conquanto imensurável no que se refere às medidas humanas, o Ovum materno tem limites. Embora ele próprio não seja infinito, etá cercado pelo infinito por todos os lados.

Os inúmeros ova (plural latino de ovum), representando todas as coisas e seres, visíveis e invisíveis, estão de tal modo arrumados dentro do Ovum materno que o maior em expansão contém o imediatamente menor de todos, com espaços intermediários, até o ovum menor de todos, que é o núcleo central, encerrado no espaço-tempo infinitesimal. 

Um ovum dentro de um ovum, dentro de um ovum, desafiando os números humanos, todos fertilizados por Deus - eis aí o Universo, meus companheiros.

No entanto, percebo que minhas palavras são muito escorregadias para vossa mente, mas a boa vontade as tornará em degraus seguros e firmes que hão de lear-vos à perfeita Conpreensão. Firmai-vos em mais do que palavras e em mais do que vossa mente, se desejardes chegar às alturas a que Mirdad deseja que chegueis.

As palavras são, quando muito, relâmpagos que revelam horizontes; elas não são o caminho para esses horizontes. Por isso, quando vos falo do Ovum e dos ova, do macrodeus e do microdeus, não vos apegueis à letra, mas segui o relâmpago. Assim verificareis que minhas palavras são poderosas asas para vossa claudicante compreensão. 

Meditai sobre a Natureza que vos cerca. Não verificais que está contruída sobre o princípio do ovum? Sim, é no ovum que ireis encontrar a chave de toda a criação.

É um ovum vossa cabeça, vosso coração e vosso olho. E ova são todos os frutos e sementes. É um ovum toda a gota de água, e um ovum é um espermatozóide de qualquer criatura viva; e as inúmeras esferas que traçam suas rotas sobre a face dos céus - não são todas elas um ovum que contém a quintessência da vida - o microdeus - em vários estágios de desenvolvimento? Não está toda a vida sendo constantemente incubada, a sair de um ovum para tornar a entrar em outro ovum?

Realmente miraculoso e contínuo é o processo da criação. A corrente de vida da superfície do Ovum materno parte do centro, e do centro vai, ininterruptamente, para a periferia.
À medida que se vai expondo no tempo e no espaço, o microdeus e o núcleo central passam de ovum a ovum, da mais baixa à mais alta ordem de vida, sendo a mais baixa a de menor expansão e a mais alta a de maior expansão no tempo e no espaço, variando o tempo necessário para a passagem do ovum de uma para outra ordem, de um piscar de olhos, em alguns casos, até um éon, em outros. E assim prossegue o processo até que a casca do Ovum materno é rompida, e o microdeus emerge como macrodeus.

A vida, pois, é um desenvolvimento, um crescimento e um progresso; não, porém, como os seres humanos  consideram e falam sobre o crescimento e o progresso, pois crescimento, para eles é um acréscimo de volume, e peogresso, o caminhar para frente. O crescimento, porém, é uma expansão total no tempo e no espaço, e o progresso é um movimento que se estende, igualmente, em todas as direções: para trás, bem como para frente, para baixo e para os lados bem como para cima. O crescimento fundamental, pois, é o crescimento do espaço; e o progresso fundamental é o avançar do tempo, fundindo-se no macrodeus e atingindo a libertação das cadeias do tempo e do espaço, que é a única liberdade que merece tal nome. E é esse o destino traçado para o ser humano.

Todas as ordens de seres abaixo do homem estão incluídas em um grupo de ova. Há, pois, para as plantas, tantos ova quantas variedades de plantas existam, as mais evoluídas encerrando as menos evoluídas. O mesmo quanto aos insetos, peixes e mamíferos; sempre os mais evoluídos encerrando todas as ordens de vida, abaixo delas, até o núcleo central.

Assim como a gema e a clara dentro de um ovo comum servem para alimentar e desenvolver o embrião nele encerrado, também todos os ova, encerrados em qualquer ovum, servem para alimentar e desenvolver o microdeus ali encerrado.

Em cada ovum sucessivo, o microdeus encontra um alimento espaço-tempo ligeiramente diferente daquele queblhe foi fornecido pelo ovum precedente. Daí a diferença na expansão espaço-tempo. Difuso e informe no gás, ele torna-se mais concentrado e aproxima-se de uma forma no líquido; no mineral assume uma forma definida e com uma fixidez permanente, enquanto está desprovido de quaisquer atributos da vida conforme se manifestam nas formas superiores. No vegetal, toma forma com a capacidade de crescer, multiplicar-se e sentir; no animal, sente, move-se, propaga-se e possui memória e rudimentos da capacidade de pensar, mas no ser humano, além de tudo isso, adquire a personalidade e a capacidade de contemplar, de expressar-se e de criar. Verdade é que a criação do homem, em comparação com a de Deus, é semelhante a um castelo de cartas construído por uma criança, comparado a um magnífico templo ou um elegante castelo construído por um super-arquiteto. Não obstante, é uma criação.

Cada ser humano torna-se um ovum individual, o mais evoluído do encerrando o menos evoluído, e também todos os ova animais, vegetais e inferiores, até o núcleo central; enquanto o mais evoluído - o liberto - encerra todos os ova humanos e subumanos.

O tamanho do ovum que encerra qualquer ser humano é medido pela amplitude dos horizontes de espaço-tempo desse ser humano. Enquanto a consciência do tempo de determinado ser humano não ultrapassa o curto período que vai de sua infância até o momento presente, e seus horizontes de espaço não abrangem mais do que seus olhos podem alcançar, os horizontes de outro, abrangem passados imemoráveis e futuros, muito além em distãncia e léguas de espaço, ainda não atingidos por seus olhos. 

O alimento fornecido a todos os homens para seu desenvolvimento é o mesmo; não é, porém, a mesma, sua capacidade de alimentar-se e digerir, pois não saíram do mesmo ovum na mesma ocasião e no mesmo lugar. Daí a diferença em suas expansãoes de espaço-tempo; e aí está o motivo de não se encontrarem dois exatamente iguais.

Da mesma mesa, tão rica e prodigamente posta, diante dos homens, um banqueteia-se com a pureza e a beleza do ouro e satisfaz-se, enquanto o outro banqueteia-se com o próprio ouro e está sempre com fome. O caçado, em vendo uma corça, é impelido a matá-la e a comê-la. O poeta, ao ver a mesma corça, é transportado, como se tivesse asas, aos espaços-tempos com os quais o caçador jamais sonha. Micayon, vivendo na mesma Arca em que vive Shamadam, sonha com a liberdade final e o alto da montanha da libertação das cadeias do tempo e do espaço, enquanto Shamadam está, constantemente, amarrando-se com laços, cada vez mais compridos e mais fortes, do espaço e do tempo. Em realidade Micayon e Shamadam, embora estejam um ao lado do outro, estão muito longe um do outro. Micayon contém Shamadam; porém Shamadam não contém Micayon. Por isso Micayon pode compreender Shamadam, mas Shamadam não pode compreender Micayon. ( É curioso verificar que, etimologicamente, em nosso idioma, a palavra compreender significa prender conjuntamente, sendo por isso sinônimo de abranger, o que está de perfeito com o texto).

A vida de um liberto toca a vida de todos os seres humanos por todos os lados, pois contém as vidas de todos os seres humanos. No entanto, a vida de nenhum ser humano toca, por todos os lados, a vida de um liberto. Ao ser humano mais simples, o liberto dá a impressão do mais simples dos seres humanos. O altamente evoluído, reconhece-o como altamente evoluído, mas há certos aspectos do liberto que somente outro liberto pode perceber e compreender. Eis por que ele é um solitário, e sente-se como quem está no mundo, porém não é do mundo.

O microdeus não quer permanecer encerrado. Está sempre trabalhando por sua libertação da prisão no tempo e no espaço, usando uma inteligência muito superior à humana. Nos entes inferiores, os seres humanos chamam-na de instinto. Nos seres humanos comuns, chamam-na de razão. E é tudo isso e muito mais do que isto. É aquele poder sem nome a que alguns deram, muito adequadamente, o nome de Espírito Santo, e que Mirdad denomina de Espírito Santo da Sagrada Compreensão. 

O primeiro filho do ser humano que furou a casca do tempo e atravessou a fronteira do espaço foi chamado, com muita razão, o Filho de Deus. Sua compreensão da divindade é, adequadamente, denominada Espírito Santo. Podeis estar certos de que vós o Espírito Santo procura entrar. Trabalhai com ele e jamais contra ele. 

Enquanto, porém, não houverdes furado a casca do tempoe atravessado a fronteira do espaço, que ninguém diga: "Eu sou Deus". Antes diga "Deus é Eu". [a tradução mais fiel seria talvez. Deus é o eu, no sentido do verdadeiro eu divino. O respeito ao original fez-no adotar a forma acima.]. Conservai bem isto na mente, para que o orgulho w a vã imaginação não corrompam o coração nem militem contra o trabalho do Espírio Santo dentro de vós, pois a maior parte dos seres humanos trabalha contra o Espírito Santo, adiando a libertação final.

Para conquistar o tempo, tereis de, com o tempo, combater o tempo. Para vencer o espaço tereis de deixar que o espaço devore o espaço. Fazer-te de amável anfitrião de qualquer um deles é permanecer prisioneiro de ambos e refém das infindáveis travessuras do bem e do mal.

Aqueles que descobriram seu destino e anseiam por vivê-lo, não perdem tempo embalando o tempo, nem passos andado no espaço. No espaço de uma curta vida poderão enrolar os éons e aniquilar imensas vastidões. Não esperam que a morte os leve a um ovum próximo aos deles; confiam em que a vida ps auxiliará a perfurar a casca de muitos ova de uma só vez. 

Para isso precisais estar desapegados de tudo, para que que o tempo e o espaço não tenham domínio sobre vosso coração. 
Quanto mais possuirdes, mais sereis possuídos. Quanto menos possuirdes, menos sereis possuídos.

Sim, sede destituídos de tudo, exceto de vossa fé, de vosso amor e de vosso anseio pela libertação, por meio da Sagrada Compreensão.