segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Formatividade

A DEFINIÇÃO DA ARTE 

1. ESTUDOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS

1. A Formatividade

Toda a vida humana é, invenção, produção de formas; toda a operosidade humana, seja no campo moral, seja naqueles do pensamento  e da arte, engendra formas, criações orgânicas e completas, dotadas de compreensibilidade e autonomia próprias: são formas produzidas pelo operar humano, tanto as construções teóricas quanto as instituições civis; tanto as realizações cotidianas e aquelas empreendidas pela técnica quanto um quadro ou um poema. 

Sendo cada formação um ato de invenção, uma descoberta das regras de produção segundo as exigências da coisa a ser feita, afirma-se assim a artisticidade intrínseca de cada operação humana. 

Um principio de autonomia capaz de diferenciar a formação da obra de arte de qualquer outro tipo de formação; ao definir a arte como intuição do sentimento.

Um conceito personalístico de unitotalidade da pessoa, que a cada vez especifica a sua atividade numa direção especulativa, prática, artística, permanecendo sempre - unitariamente - pensamento, moralidade, normatividade:

Somente uma filosofia da pessoa é capaz de resolver o problema da unidade e distinção das atividades, pois explica, com base na indivisibilidade e na iniciativa da pessoa, que cada operação exige sempre e conjuntamente a especificação de uma atividade e a concentração de todas as outras: se o operar fosse do espírito absoluto, não haveria distinção entre as atividades e todas se reduziriam a uma.  

Portanto, assim como um empreendimento especulativo implica o empenho ético, a paixão pela pesquisa e uma sábia artisticidade capaz de guiar o processo de resolução da pesquisa e a disposição dos resultados a moralidade, como o empenho que faz com que a arte seja sentida como missão e dever e impede justamente que a formação siga outra lei que não seja a da obra a ser realizada; assim como intervém o sentimento como coloração afetiva que o empenho assume e no qual desenvolve; e intervém a inteligência, como juízo contínuo, vigilante, consciente, que rege a organização da obra, como controle crítico que não é estranho à operação estética "no momento em que se desenvolve a reflexão e o juízo", advertia Croce, "a arte se dissipa e morre..." e que não é o suporte da ação criativa, fase de repouso e reflexão heterogênea para um pretenso momento puramente fantástico, mas é o movimento inteligente em direção à forma, pensamento exercitado no interior da operação formante e voltado para a realização estética. 

Dada, portanto essa copresença de atividades na pessoa que opera inteira, o que distingue a arte das outras iniciativas pessoais é o fato de que com ela todas as atividades da pessoa são voltadas para uma intenção puramente formativa: 

Na arte, essa formatividade, que investe toda a vida espiritual e torna possível o exercício das outras operações específicas, especifica-se, por sua vez, e se acentua numa prevalência que subordina a si todas as outras atividades, assumindo uma tendência autônoma ... Na arte, a pessoa ... forma unicamente por formar e pensa e age para formar e poder formar. 

Conceito de forma como organismo, coisa estruturada que reconduz à unidade elementos que podem ser sentimentos, pensamentos, realidades físicas, coordenados por um ato que tende à harmonia desta coordenação, mas procede segundo leis que a própria obra de arte postula e evidencia em seu fazer-se.

Conteúdo de toda a formação especificamente ta; é a própria pessoa do artista. O objeto de narração: a pessoa que forma é declarada pela obra formante como estilo, modo de formar; a obra nos conta, exprime a personalidade de seu criador na própria trama de seu consistir, o artista vive a obra como traço concreto e personalíssimo de ação. 

Por meio da obra de arte, filtra-se toda inteira a original personalidade e espiritualidade do artista, denunciada, mais do que pelo sujeito e pelo tema, pelo próprio modo irrepetível e personalíssimo que ele sustentou ao forma-la. 

O conteúdo da obra é a própria pessoa do criador que, ao mesmo tempo, se faz forma, pois constitui o organismo como estilo (que pode ser reencontrado a cada leitura interpretaste), modo com o qual a pessoa formou-se na obra e também modo com o qual e pelo qual a obra consiste. Assim sendo, o próprio sujeito de uma obra não é outra coisa senão um dos elementos nos quais a pessoa expressou-se fazendo-se forma.


*Assim sendo as disputas sobre termos como conteúdo, matéria e forma são destituídas de significado.