A matéria da arte
É uma arte que não pode ignorar a fisicidade; uma figuração totalmente interior. Ignorando o fato da extrinsecação; visto como um exercício de pesquisa. É como se a imagem pudesse nascer som, cor, sem que um exercício concreto sobre a fisicidade a ser tomada lhe fosse contínua referência, suporte, sugestão. Os filósofos e artistas fazem uma análise acurada do problema da matéria na arte, daquele diálogo com a matéria indispensável para qualquer produção de arte, no qual a presença da fisicidade como resistência oferece pontos de partida, obstáculos e sugestões de ação formativa.
Investigando com uma análise sutil a atividade dialógica a partir da qual o artista, limitando-se diante do obstáculo, encontra sua liberdade mais verdadeira ... averigua as possibilidades co material com o qual luta e cuja as leis reconstrói aos poucos no quadro de uma organização que as transforma em leis da obra.
Portanto, é a matéria como obstáculo sobre o qual se exercita a atividade inventiva que converte as necessidades do obstáculo em leis da obra.
O conceito de matéria aquelas várias realidades que se chocam e interseccionam no mundo da produção artística: o complexo dos "meios expressivos", as técnicas transmissíveis, as preceptísticas codificadas, as várias "linguagens" tradicionais, os próprios instrumentos da arte.
Tudo isso é subsumido sob a categoria geral de "matéria", a realidade exterior sobre a qual o artista trabalha. Uma antiga tradição retórica pode ser assumida a mesmo título do mármore sobre o qual se esculpe - como obstáculo escolhido para ser transformado em sugestão de ação. O próprio escopo o qual uma obra funcional é destinada deve ser considerado "matéria": um complexo de leis autônomas que o artista deve saber interpretar e reduzir a leis artísticas.
*Croce faz da atividade poética uma coisa que cria, a cada vez, o seu certo e o seu ritmo, a sua lei; Valéry afirma que a verdadeira poesia não vem à luz senão por meio da luta contra o obstáculo pela métrica pela linguagem tradicionais.
Ora, segundo a estética da formatividade, o artista, ao formar, inventa efetivamente leis e ritmos totalmente novos, mas essa novidade não surge do nada, e sim nasce exatamente como livre resolução de um complexo de sugestões que a tradição cultural e o mundo físico propuseram ao artista sob a forma inicial de resistência e passividade codificada.
A produção artística será um tentar, um proceder a partir de propostas e esboços, de pacientes interrogações da "matéria". Mas essa aventura criativa tem um ponto de referência e um termo de comparação. O artista opera tentando, mas sua tentativa é guiada pela obra tal como deverá ser, a qual, sob a forma de apelo e exigência intrínseca à formação, orienta o procedimento produtivo: ... o tentar dispõe, portanto, de um critério, indefinível, mas muito sólido; o pressentimento do êxito, a adivinhação da forma.