sexta-feira, 3 de outubro de 2008

4º Grande Axioma: DAS PREVISÕES

O comportamento do ser humano não é previsível. Desconfio de quem afirmar que conhece uma nesga que seja do futuro.

É de se pensar: para que ficar dando ouvidos a esses profetas da economia, que sabem tanto do futuro quanto você e eu?

Com grande frequencia, é erro ouvir. Em 1929, no dia 23 de agosto, o Wall Street Journal dizia aos seus leitores que poderiam ganhar muito dinheiro na Bolsa. A bola de cristal do WSJ, técnica de enxergar o futuro chamada Teoria Dow, revelava que, no mercado de ações, estabelecera-se "uma forte tendência de alta". E afirmava:"Para os meses vidouros, as perspectivas são mais brilhantes que nunca." O jornal prosseguiu contando vantagens, feliz. Dois meses depois entrou todo mundo pelo cano.

A medida mais usada para avaliar o desempenho de um investimento é o índice Standard & Poor, composto por 500 ações ao portador. Em 1983, esse índice subiu 22%. Por outras palavras, se nesse ano a sua carteira de especulações apresentou um ganho de 22%, você operou na média. A sua nota seria Regular. Segundo a pesquisa do New York Times, 60% dos administradores profissionais de dinheiro ficaram abaixo disso.

A verdade é que ninguém tem a mais remota idéia do que vai acontecer ano que vem, semana que vem, nem sequer amanhã. Se você está a fim de chegar a ser alguém como um especulador, a primeira coisa a fazer é largar o vício de dar atenção a previsões. É da maior importancia jamais levar a sério economistas, especialistas em mercado nem quaisquer outros oráculos financeiros.

As vezes eles estão certos, é lógico, e é isto que os torna tão perigosos. Evidente que quem faz muitas previsões, acerte algumas. Quanto mais previsões mais acertos. Isto porque, somente os acertos são publicados e os desastres estrondosos.

Como uma suposta capacidade de enxergar o futuro tem um certo apelo hipnótico, é fácil deixar-se fascinar por um profeta de sucesso. No mundo do dinheiro, então, isto é mais verdadeiro ainda. Alguns anos de palpites frequentemente certos são suficientes para um profeta conseguir uma legião de seguidores - em certtos casos, uma legião tão grande, que as profecias, por isso mesmo, acabam se confirmando.

Todo profeta às vezes acerta, outras vezes erra - erram mais do que acertam, mas quem é que vai advinhar? Para isto, seria necessário fazerem-se previsões acerca das previsões dos profetas. E se fôssemos capazes dessas previsões, para que precisaríamos de profetas? Como não somos, não podemos apostar em nada do que eles dizem. Assim sendo, vamos deixar de lado essa coisa de ficar tentando dar uma espiadinha no futuro. Não dá.

A conclusão é, que não vale grande coisa. Ficar dando atenção a profetas não dá lucro nenhum.

Há coisas que podem ser preditas. Sabemos precisamente, por exemplo, a que horas o sol se levantará a cada manhã. Tabelas de marés são feitas com meses de antecedência. O calendário que o banco me dá de brinde, todo mês de janeiro, diz quais serão as fases da lua nos 12 meses seguintes. Previsões do tempo são menos confiáveis, mas ainda assim são razoavelmente dignas de crédito, e têm melhorado.

Por que tais coisas podem ser previstas, e por que são confiáveis essas previsões? Porque se trata de enventos físicos. Os Axiomas de Zurique, porém, tratam do mundo do dinheiro, que é um mundo de eventos humanos . Não há método, não existe ninguém capaz de prever eventos humanos. Na realidade, é claro que os fenômenos envolvendo dinheiro são manifestações do comportamento humano.

A bolsa de Valores, por exemplo, é um gigantesco mecanismo de emoções humanas. O que homens e mulheres estão fazendo, pensando, sentindo é que determina as altas e baixas das ações. Tudo resulta de interação humana, incansavelmente, empenhados na eterna batalha pela sobrevivência, pelo auto-aperfeiçoamento. Tudo causado por gente, por pessoas. E assim sendo, tudo totalmente imprevisível.

O fato, simplesmente, é que são demais as variáveis envolvidas, para que se possa obter uma previsão confiável de algo como a taxa de inflação. Essa taxa resulta de milhões de pessoas tomando bilhões de decisões: operários decidindo quanto querem ganhar, patrões decidindo quanto querem pagar, consumidores estabelecendo os preços que estão afim de engolir, e todo mundo tomando decisões sobre sentimentos difusos de épocas duras ou de prosperidade, temor ou segurança, tristeza ou animação. Alguém afirmar que é capaz de produzir previsões confiáveis a respeito de uma complexidade espantosa como esta parece arrogante - mais: parece ridículo.

Há fatores imprevisíveis.

Estratégia Especulativa:
O 4º Grande Axioma diz para você não montar o seu programa especulativo baseado em previsões , porque não dá certo. Esqueça todos os prognósticos. No mundo do dinheiro, um mundo moldado pelo comportamento humano, ninguém tem a mais remota idéia do que acontecerá no futuro. Preste bem atenção: ninguém.

Claro , todos nós pensamos no que vai acontecer, e nos preocupamos. Mas tentar escapar a essas preocupações apoiando-se em previsões é pobreza na certa. O especulador de sucesso não baseia suas jogadas no que, supostamente, vai acontecer; ele reage ao que realmente acontece.

Trace seu projeto especulativo baseado em reações rápidas a eventos que você vê acontecendo à sua frente, na hora. Naturalmente, ao escolher um investimento e colocar seu dinheiro nele, você tem esperança de que o seu futuro será brilhante. Essa esperança, presumivelmente, vem de muito estudar e de muito pensar. O ato de pôr o seu dinheiro na operação é, por si só, uma espécie de previsão. Você está pensando: "Tenho razões para esperar que isso dê certo. " Não deixe, contudo, que tal pensamento se congele num pronunciamento oracular: "Vai dar tudo certo, porque as taxas de juros cairão." Nunca, jamais , perca de vista a possibilidade de ter apostado no cavalo errado.

Se a especulação der certo, e você se vir a caminho da linha de chegada pre-estabelecida , tudo bem. Mas se, apesar de todas as promessas de todos os profetas, as coisas começarem a sair erradas, lembre-se do 3º Grande Axioma: abandone o barco.