O Livro do Amor
O amor humano é a preparação para o amor divino
Desejo: resplendor divino infuso no outro.
Tudo parte da semelhança. E quando o amor é verdadeiro os amantes se identificam um com o outro. Passamos do amor solitário ao amor recíproco. Semelhança e reciprocidade fundamentam sua estrutura:
"A semelhança gera o amor. A semelhança é uma certa natureza igual em vários. Pois se eu sou semelhante a ti, também és necessariamente semelhante a mim. Portanto a mesma semelhança, que impele que eu te ame, assim como tu me amas, obriga-te também a me amares."
> Camões: o amador se transforma na coisa amada e em si mesmo possui a parte desejada.
"Na verdade cada um tem a si próprio e ao outro. Pois este existe naquele. E aquele existe neste. Com efeito enquanto eu te amo, eu me encontro amante, em ti, estando eu a pensar em mim, e recobro-me por mim mesmo, perdido na minha negligência, conservando-me em ti. A mesma coisa que fazem em mim. Pois eu depois que me perdi a mim mesmo, se por ti me recobro, por ti tenho a mim, eu te tenho antes e mais que a mim mesmo, e estou mais próximo de ti que de mim, visto que me ligo a mim precisamente por ti."
Três pessoas (eu - você e nós): o amante e o amado são apenas espelhos que guardam a imagem imperfeita, é isso que os aproxima um do outro. Precisam compreender a profundidade desse bem.
(A razão invertida; o amor na prática é sempre ao contrário como diz Cazuza em Ritual)
Apesar da união os amantes não sabem exatamente o que buscam um no outro. Querem sempre mais, mas já não sabem o que significa esse mais. Sofrem quando amam mas não sabem porque sofrem. Têm saudade do imponderável. A semelhança e a reciprocidade não resolvem esse mistério divino.
Conhecimento puro: libertar-se do corpo para ocupar-se da alma. Passar da superfície ao profundo. O endereço do homem é o outro. Assim como o sol atrái as flores, a lua move as águas e marte comanda os ventos, também sofremos o impacto da beleza, que é o rosto de Deus, e atrái a alma por uma lei intrínseca de semelhança.
Aplacar-lhe a sede. Fonte das fontes. Um encontro sublime entre o amor e a coisa amada. Um projeto de redenção onde coincidem o Bem e o Uno, a causa eficiente e a causa final.
A alma é o verbo do intelecto .
O belo é o prefácio do bem.
"Quando a alma nos é arrebatada só nos resta amar" C.D.A.
Procuro algo mais tranquilo nada que avassale a noite nem rasgue o dia.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
"Deve-se não tanto procurar criar ocasiões, mas aproveitar aquelas que se apresentam."
"Amar é como tomar um Banho de Lua. Os raios que provêm da lua são aqueles do sol, refletidos até nós. Concentrando os raios do sol com um espelho, aumentamos a sua força aquecedora... É um modo de dizer que o amor observa as mesmas leis que governam tanto os corpos sublunares quanto os celestes, embora seja de tais leis a mais nobre das manifestações. O amor nasce do olhar e é a primeira vista que se acende: e que mais é o ver senão o acesso de uma luz refletida pelo corpo que olhamos? Vendo-o meu corpo é penetrado pela melhor parte do corpo amado, a mais leve, que pelo meato dos olhos chega diretamente ao coração. E, portanto, amar à primeira vista é beber os espíritos do coração da amada. O grande Arquiteto da Natureza quando compôs o nosso corpo, nele colocou espíritos internos, à guisa de sentinelas, para informar as suas descobertas ao próprio general, vale dizer à imaginação, que é como se fosse a senhora da família corpórea. E se ela for atingida por algum objeto, acontece o mesmo que se dá quando se ouvem ressoar as violas, cuja melodia conservamos na memória e a ouvimos até mesmo durante o sono. Dela, nossa imaginação constrói um simulacro, que delicia o amante, embora não o dilacere, por ser apenas um simulacro. Disso ocorre quando se é surpreendido pelo olhar de uma pessoa, a quem ama, muda de cor, enrubesce e empalidece, conforme aqueles ministros, que são os espíritos internos, sigam, rápida ou lentamente, na direção do objeto, para depois retornar à imaginação. Tais espíritos, não chegam apenas ao cérebro, mas diretamente ao coração, através do grande canal que conduz, deste para o cérebro, os espíritos vitais que ali se tornam espíritos animais; e, sempre através desse canal, a imaginação envia ao coração uma parte dos átomos que recebeu de alguns objetos externos e são estes átomos que produzem aquela ebulição dos espíritos vitais, que às vezes, dilatam o coração, e, às vezes, o conduzem a síncope."
"Amar é como tomar um Banho de Lua. Os raios que provêm da lua são aqueles do sol, refletidos até nós. Concentrando os raios do sol com um espelho, aumentamos a sua força aquecedora... É um modo de dizer que o amor observa as mesmas leis que governam tanto os corpos sublunares quanto os celestes, embora seja de tais leis a mais nobre das manifestações. O amor nasce do olhar e é a primeira vista que se acende: e que mais é o ver senão o acesso de uma luz refletida pelo corpo que olhamos? Vendo-o meu corpo é penetrado pela melhor parte do corpo amado, a mais leve, que pelo meato dos olhos chega diretamente ao coração. E, portanto, amar à primeira vista é beber os espíritos do coração da amada. O grande Arquiteto da Natureza quando compôs o nosso corpo, nele colocou espíritos internos, à guisa de sentinelas, para informar as suas descobertas ao próprio general, vale dizer à imaginação, que é como se fosse a senhora da família corpórea. E se ela for atingida por algum objeto, acontece o mesmo que se dá quando se ouvem ressoar as violas, cuja melodia conservamos na memória e a ouvimos até mesmo durante o sono. Dela, nossa imaginação constrói um simulacro, que delicia o amante, embora não o dilacere, por ser apenas um simulacro. Disso ocorre quando se é surpreendido pelo olhar de uma pessoa, a quem ama, muda de cor, enrubesce e empalidece, conforme aqueles ministros, que são os espíritos internos, sigam, rápida ou lentamente, na direção do objeto, para depois retornar à imaginação. Tais espíritos, não chegam apenas ao cérebro, mas diretamente ao coração, através do grande canal que conduz, deste para o cérebro, os espíritos vitais que ali se tornam espíritos animais; e, sempre através desse canal, a imaginação envia ao coração uma parte dos átomos que recebeu de alguns objetos externos e são estes átomos que produzem aquela ebulição dos espíritos vitais, que às vezes, dilatam o coração, e, às vezes, o conduzem a síncope."
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
" O coração amado é um alaúde, que faz consonar as cordas de um de um outro alaúde, como o som dos sinos age sobre a superfície dos cursos d'água, sobretudo à noite, quando, na ausência de outro rumor, gera-se na água o mesmo movimento que se formou no ar. Acontece com o coração amante o mesmo que acontece com o tártaro, que, às vezes, perfuma de água de rosa, quando é deixado para dissolver-se na escuridão de uma adega, durante a estação das rosas, e o ar, cheio de átomos de rosa, transformando-se em água em virtude da atração do sal de tártaro, perfuma o tártaro. Nem vale a crueldade da amada. Um tonel de vinho, quando as vinhas estão em flor, fermenta e lança à superfície uma flor branca, que permanece até caírem as flores da videira. Mas o coração amante, mais obstinado que o vinho, quando floresce ao florescer do coração amado, cultiva o seu rebento, mesmo que a fonte haja secado."
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
A Rosa dos Ventos - tenho bussola (coração sempre aponta ao norte), tenho mapa (da Ternura), ampulheta (intuição), sonhos de navegante............desejos de velejador. A deriva, no mar................
"O amor obedece as mesmas leis do vento, e os ventos sempre trazem o aroma dos lugares de onde provêem, e se provêem de hortos e jardins, podem perfumar de jasmim, ou de hotelã ou de rosmaninho, e assim tornam os navegantes desejosos de tocar a terra, que os convida com tantas promessas. Não diversamente os espíritos amorosos inebriam as narinas do coração enamorado."
"O amor obedece as mesmas leis do vento, e os ventos sempre trazem o aroma dos lugares de onde provêem, e se provêem de hortos e jardins, podem perfumar de jasmim, ou de hotelã ou de rosmaninho, e assim tornam os navegantes desejosos de tocar a terra, que os convida com tantas promessas. Não diversamente os espíritos amorosos inebriam as narinas do coração enamorado."
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
"
Se forem duas, sua equivalência
às pernas de um compasso as torna iguais;
tua alma, a perna fixa, na aparência
é imóvel, mas se move se a outra o faz.
E sem deixar o centro em que se assenta,
saindo a companheira a viajar,
inclina-se por ela e a segue atenta,
e fica ereta com a sua volta ao lar.
É o que farás por mim, que ora deslizo
como a perna que oblíqua se separa;
porque és firme, o meu círculo é preciso,
e venho a terminar onde iniciara.
"
Se forem duas, sua equivalência
às pernas de um compasso as torna iguais;
tua alma, a perna fixa, na aparência
é imóvel, mas se move se a outra o faz.
E sem deixar o centro em que se assenta,
saindo a companheira a viajar,
inclina-se por ela e a segue atenta,
e fica ereta com a sua volta ao lar.
É o que farás por mim, que ora deslizo
como a perna que oblíqua se separa;
porque és firme, o meu círculo é preciso,
e venho a terminar onde iniciara.
"
sábado, 14 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
" O Norte da Bússola da Prudência consiste em desfraldar as velas ao vento no Instante Oportuno".
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
terça-feira, 10 de agosto de 2010
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
Atormentado Conforto
"Já é difícil reconstituir gestos e sentimentos de uma personagem que certamente queima de amor verdadeiro, mas não se sabe jamais se exprime o que sente ou o que as regras do discurso amoroso lhe prescreviam - mas, por outro lado, que sabemos nós da diferença entre paixão sentida e paixão expressa, e qual delas é a primeira?"
Não há nada na mente que não tenha passado antes pelos sentidos
"Já é difícil reconstituir gestos e sentimentos de uma personagem que certamente queima de amor verdadeiro, mas não se sabe jamais se exprime o que sente ou o que as regras do discurso amoroso lhe prescreviam - mas, por outro lado, que sabemos nós da diferença entre paixão sentida e paixão expressa, e qual delas é a primeira?"
Não há nada na mente que não tenha passado antes pelos sentidos
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
Divagações à deriva num navio deserto
"Ou talvez seja uma pequena astúcia amorosa; antes de mais nada se procura saber aonde chegou..."
"Não se perde alguém mais do que quanto a possuiu."
"Ou talvez seja uma pequena astúcia amorosa; antes de mais nada se procura saber aonde chegou..."
"Não se perde alguém mais do que quanto a possuiu."
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco
"E orgulho-me todavia de minha humilhação, por estar condenado a tal privilégio, quase desfruto uma salvação odiosa: acredito ser na memória humana o único exemplar de nossa espécie a ter naufragado num navio deserto".
O náufrago sai da ilha e nada até um navio deserto que parece montado numa expectativa de receber alguém. O que houve com a tripulação? E você o que faria a DERIVA num navio deserto?
Derivar-me
Deixar-me a deriva
*desvio da rota
*ao sabor das ondas
O náufrago sai da ilha e nada até um navio deserto que parece montado numa expectativa de receber alguém. O que houve com a tripulação? E você o que faria a DERIVA num navio deserto?
Derivar-me
Deixar-me a deriva
*desvio da rota
*ao sabor das ondas
terça-feira, 3 de agosto de 2010
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