quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O FOGO

Byron virou-se na direção do mar, de modo que os outros, preocupados com o fogo, não perceberam quando ele pescou furtivamente de sua carteira o magro livro que conseguira manter em seu poder: o exemplar de Shelley contendo os últimos poemas de Keats, publicados não muito antes de sua morte em Roma.

Esse livro saturado de água fora encontrado com o corpo exatamente como Sheley o deixeira: enfiado dentro do bolso de seu curto e mal-ajambrado jaquetão de colegial ainda estava aberto e marcado na página do poema de Keats que Sheley mais gostava: "A Queda de Hiperion" a respeito da mitológica batalha entre os Titãs e aqueles novos deuses, conduzidos por Zeus, que logo os substituiriam. Depois da famosa e mitológica batalha, que todo colegial conhece, somente Hiperion, o deus sol e o último dos Titãs, sobrevivera.

Esse era um poema ao qual Byron jamais dera muita importancia - e que o próprio Keats tampouco gostara o suficiente a ponto de terminá-lo. Mas parecia importante para Byron o fato de que Percy se esforçara tanto para guardá-lo consigo, até ao morrer. Ele certamente marcara a seguinte passagem por algum motivo:

Anon, assaltado pelo brilhante Hiperion;
Sua túnica flamejante desfraldada por trás de seus calcanhares,
E rugiu como se de fogo terrestre fosse...
Para os céus fulgurou...

* como uma Fênix