sábado, 18 de outubro de 2008

O 10º Grande Axioma: DO CONSENSO

Fuja da opinião da maioria. Provavelmente está errada.


René Descartes foi campeão mundial da dúvida. Teimosamente, recusava-se a acreditar em qualquer coisa até que a tivesse verificado pessoalmente. Este foi um dos traços que fez dele um bem sucedido especulador. Descartes começa a sua filosofia duvidando de tudo, literalmente, inclusive da existência de Deus, do homem e de si próprio. Continuando a recusar o que os outros queriam vender-lhe como verdade, ele buscou meios de descobrir a verdade através dos seus próprios sentidos e experiências. “Cogito, ergo sum”, ou seja, “penso, logo existo”. Descartes continuou a comprovar ou rejeitar outras verdades postuladas. No mesmo impulso, também, tanto como hobby quanto porque gostava de vinhos caros e de outros luxos, Descartes estudou cientificamente os jogos.

Descartes gostava de jogos como Bridge e Poker que além de sorte implicavam cálculos e matemáticos e psicologia. Estudava os jogos com o cuidado e ceticismo costumeiros, rejeitando todos os clichês e lugares comuns da sua época, insistindo em descobrir verdades e falácias por conta própria.

O truque, não se cansava de se repetir em diferentes contextos, é rejeitar o que lhe dizem, até ter pensado tudo pela própria cabeça. Duvidava das verdades afirmadas por autoproclamados especialistas, e recusava-se até a ouvir a opinião da maioria. “Não existe praticamente nada que tenha sido afirmado por um sábio e não tenha sido contraditado por outro”. “Contar votos não serve de nada. Em qualquer questão difícil, é mais provável que a verdade seja descoberta por uns poucos do que por muitos”.

Na nossa democrática, no nosso democrático lado do mundo, tendemos a aceitar sem críticas a opinião da maioria. A opinião da maioria. Se um monte de gente diz que é assim, tudo bem, assim seja. É como nós pensamos. Se não temos certeza de alguma coisa, vamos contar os votos. Nos EUA e em outras nações ocidentais, é quase uma religião, principalmente na França e na Inglaterra, ambos países com longas tradições de resolver problemas pelo voto popular. Se 75% das pessoas acreditam em alguma coisa, parece quase sacrilégio perguntar, ainda que em sussurro:

- Ei, esperem aí, será que não podem estar errados?
Guiemo-nos por Descartes: podem.

Nos EUA, é o to que decide quem governa. É o único meio de fazê-lo. “O povo falou. Não se pode iludi-lo. Se isto que quer, deve estar certo”.
Essa humilde aceitação da opinião da maioria passa para vida financeira. E isto pode custar dinheiro, pois, como dizia Descartes, é mais provável que a verdade tenha sido encontrada por uns poucos do que por muitos.

Os muitos podem estar certos, mas as probabilidades são contra eles. Pare com o hábito de achar que todas as afirmativas muito repetidas são a verdade. “Um grande déficit orçamentário será a ruína da América”, diz quase todo mundo. É verdade? Talvez sim, talvez não. Descubra você mesmo. Tire suas próprias conclusões. “Segunda metade da década, aumentarão a inflação e a taxa de juros”. É mesmo? Não engula, simplesmente. Examine. Não deixe que a maioria manobre você.

Vale mais um pássaro na mão do que dois voando. Mantenha uma carteira diversificada. Arrisque somente apenas o que pode permitir perder. E assim por diante. Todos esses conselhos supostamente sábios fazem parte do consciente popular. Em qualquer coquetel ou reunião, é só trazer investimentos à discussão que os clichês logo aparecem. E, a medida que esses chavões vão sendo repetidos, quem estiver por perto balançará a cabeça, compenetradamente e dirá:
- Exato. Perfeito! Excelente conselho!
A Maioria das pessoas acredita que os antigos clichês são verdades indiscutíveis. Isto posto, vale a pena observar que a maioria das pessoas não é rica.

14° Axioma Menor: Jamais embarque nas especulações da moda. Com que freqüência, a melhor hora de se comprar alguma coisa é quando ninguém a quer.

As pressões da opinião da majoritária são perturbadoras, principalmente quando se aplicam às questões de em que e quando investir. É aí que especuladores normalmente muito espertos se deixam embrulhar, com maus resultados.

Tomemos a Bolsa de Valores como exemplo. Qual é a melhor hora de se comprar uma ação? Quando o preço está baixo, é lógico. E a melhor hora de vender? Ora, quando está alto claro.
Esta fórmula aparentemente tão simples, é dificílima de ser posta em prática. Boa parte dessa dificuldade se deve ao fato de que o especulador tem de ir contra a pressão da opinião pública.

Como regra geral o preço de uma ação – ou de qualquer outro objeto de especulação com igual fluidez - cai quando um número significativo de pessoas p assa crer que não vale a pena compra-la. Quanto menos interessante acharem que é, mais desce o preço. Daí o grande paradoxo que não é ensinado no jardim de infância: hora de comprar é precisamente quando a grande maioria está dizendo que não deve comprar.

Na hora de vender, a verdade é o contrário. O preço de um objeto de especulação sabe quando um grande número de compradores briga para adquiri-lo. Quando todo mundo estiver gritando: “Eu quero!”, você deve estar do outro lado do balcão, tranquilamente, dizendo: “Aqui está, com o maior prazer”.

É sabidamente difícil, porém, pensar “sim” quando em volta está todo mundo berrando “não!”. Para alguns especuladores, este é um dos grandes problemas. Maiorias sempre os dissuadindo de executarem bons lances.

A pressão da maioria não só é capaz de demolir um bom palpite; nos faz duvidar até mesmo quando sabemos que temos razão.

Ir contra a maioria é das coisas mais difíceis do mundo. Não é fácil nem quando a discussão trata de fatos que podem ser vistos e medidos. Fica muito mais complicado quando se trata de questões de opinião, que não podem ser imediatamente verificadas. Quase todas as questões que mexem com dinheiro são do segundo gênero.

Nada disto quer dizer que você fará, automaticamente, seja o que for que a maioria não estiver fazendo. Quer apenas dizer que você tem de resistir, teimosamente, às pressões da maioria, em vez de apenas ir na onda. Estude qualquer situação pel própria cabeça, processe-a no seu belo cérebro. É possível que você conclua que a maioria está errada, o que nem sempre é o caso. Se concluir que está todo mundo certo, por favor, entre na dança. Mas, atenção: faça o que fizer, apostando a favor ou contra o rebanho, para começo de conversa pense pela própria cabeça.

Há especuladores que têm por dogma ir contra a maioria, automaticamente. Dizem ser pensadores ao contrário, ou os contrários. A filosofia deles se baseia no paradoxo que viemos examinando: Frequentemente, a boa hora de se comprar alguma coisa é quando parece menos atraente.

Estratégia Especulativa
O 10º Grande Axioma ensina que a maioria, embora não sempre nem automaticamente errada, o mais das vezes está errada. Não se vai automaticamente, a favor bem contra uma maioria. Principalmente a favor. Cada caso é um caso, e você tem de pensar pela própria cabeça antes de envolver o seu dinheiro em riscos.

A maior e mais freqüente pressão em cima de você será a dos que querem obriga-lo a ir com o rebanho. Essas especulações tipo maria-vai-com-as-outras , adverte o axioma, podem custar caro. É da natureza delas que você compre na alta e venda na baixa. A mais poderosa linha de resistência a essas pressões é a nítida consciência da sua existência, e do seu insidioso poder.